Recebemos diariamente informações que tem nos amedrontado: notícias como o aumento das guerras, crises humanitárias, atrocidades praticadas por muçulmanos radicais em países dentro e fora das zonas de conflitos, etc. Isso tudo nos faz ter a sensação que a humanidade caminha para um abismo aterrorizante e que a esperança que um dia todos vivam em paz, se tornou uma utopia.

Medidas preventivas contra as guerras e crises humanitárias têm fracassado, sendo que a prevenção contra o terrorismo se tornou uma das alternativas dos governos e instituições que têm criado programas em centros de reabilitação para suspeitos de terrorismo, sendo eles presos ou ex-combatentes de grupos terroristas, na tentativa de desradicalizar, principalmente, jovens muçulmanos. Tratado como uma questão de saúde mental, sessões de psicoterapia são feitas nesses centros, onde apresentam uma versão moderada do islã e em algum momento as famílias participam por ter um papel importante na formação dessas pessoas, mas muitas vezes são os principais exemplos de extremismo religioso dentro de casa. Escolas e espaços públicos têm criado rodas de debates sobre o assunto e diversas mesquitas tentam fazer o mesmo com os fiéis, ao mostrar uma versão corânica menos violenta e que não a estimule, porém, estes têm sido considerados traidores pelos radicais por distorcerem os princípios do islã nos seus discursos. Esses programas não chegaram a ter total sucesso, pois os jovens já dominados pela ideologia radical param de frequentar esses espaços na procura por líderes que compartilhem do mesmo ideal movido pelo ódio.

Continentes estão perdendo seus jovens que sofrem por causa do desemprego, exclusão social e o preconceito. Estes se tornam fortes candidatos para futuros radicais por causa dessa vulnerabilidade e por eles e o mundo muçulmano estarem enfrentando um duelo interno entre o fanatismo (forte desejo de fazer com que o outro mude) e a tolerância (moderação).

Acredita-se que o islã moderado é a única forma que pode conter realmente o islã radical/fanático, mas é complicado entender quando essa moderação não se torna modelo pra alguns, e o próprio Corão e atitudes do profeta Mohamed (o símbolo da moralidade absoluta) vão contra ela. A conclamação à violência e a justificação dela estão explicitadas nos textos historicamente construídos no Corão e o Hadith, direcionando qualquer religioso a reviver a versão política de Maomé, vivenciada em Medina. Isso impulsionou as práticas dos seus antigos e atuais seguidores fervorosos: poder e remissão, duas balanças que um lado tem mais peso, mas um tenta justificar o outro, criando constante tensão com outros muçulmanos, movimentos religiosos e com a modernidade. O fato é que o fundamentalismo está presente na política islâmica e no comprometimento com sua fé. Ações parecidas com as atitudes do profeta e passagens corânicas que as justificam, se tornou uma interpretação real que tem conquistado o coração de muitos. A expansão do islã pelo mundo, também fruto da questão migratória econômica e forçada (refugiados), tem tornado rápido o processo da islamização e facilitado o recrutamento de pessoas para grupos extremistas sem mesmo precisar de financiamento destes.

Muitas vezes insistimos em nos concentrar na violência e não nas ideias que deram origem a ela, ignorando assim a raiz do problema. A mudança da doutrina do islã seria a solução contra o radicalismo? Será que o islã precisa de uma reforma que vem resistindo a mais de 1.400 anos? Qual seria a saída para esses jovens no processo de radicalização?

Evidentemente não é possível acontecer com o islã o que aconteceu com os cristãos durante a reforma protestante. Um dos motivos é que no islã não se pode questionar. Tal ato é considerado uma ofensa grave. Na reforma protestante questionar foi um dos fatores principais para a mudança que impulsionou a denúncia das práticas corruptas da igreja e o aprendizado, dando espaço ao pensamento crítico em todos os campos da atividade humana e a acessibilidade aos verdadeiros princípios cristãos. A única reforma visível no mundo muçulmano são movimentos, por meio da violência, daqueles que querem voltar ao tempo do profeta Mohamed, vivenciando um anacronismo letal.

Alguns muçulmanos que poderiam ser considerados reformadores das práticas do islã, como Malcon X (líder da luta contra a opressão dos negros), Malala Yousafzai (defensora dos direitos humanos das mulheres e o acesso à educação), os protagonistas da Primavera Árabe e tantos outros que se tornaram sementes da busca por mudança, por justiça e pela garantia dos seus direitos, sofreram retaliações de muçulmanos que consideravam tais atitudes levianas.

É possível muçulmanos deixarem o radicalismo quando passarem a amar mais do que odiar, ou seja, quando suas ações forem impulsionadas pelo amor e não pelo ódio. Deus, um ser poderoso e amoroso, que possui leis que se fundamentam no seu próprio caráter de bondade, molda a humanidade e traz o equilíbrio que o mundo precisa. Nós cristãos, mais do que nunca, precisamos manter as nossas convicções e atitudes baseados no exemplo de Cristo, no amor que acolhe e luta pela dignidade de todas as pessoas como seres humanos (Mt 25:35). Temos um papel fundamental na disseminação desse amor que vem do nosso Deus e que nos salvou da nossa própria ignorância. Assim poderemos apresentar o Evangelho de Cristo na forma mais expressiva, que vai além de um pensamento mesquinho de proselitismo, mas trabalhar com o servir, fortalecendo o direcionamento das pessoas a terem acesso ao Reino de Deus.

 

Referência

– HIRSI ALI, Ayaan. Herege: Por que o islã precisa de uma reforma imediata. Companhia das Letras, 2015.
– Arábia Saudita cria centro para ‘desradicalizar’ jihadistas – http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/02/arabia-saudita-cria-centro-para-desradicalizar-jihadistas.html
– Paris cria centros para ‘desradicalizar’ jihadistas em toda França
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/09/internacional/1462802479_511114.html
– Desradicalização: “Para cada pessoa há uma janela de oportunidade”
https://www.publico.pt/mundo/noticia/para-cada-pessoa-ha-uma-janela-de-oportunidade-1718975

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