Por Vanessa Miranda

 

No Senhor, todavia, a mulher não é independente do homem nem o homem independente da mulher.” 1Co. 11:11.

É sabido que os relatos corânicos e bíblicos diferem em muitos aspectos. Apesar de possuírem histórias e personagens semelhantes, a visão de mundo apresentada pelos dois textos sagrados destoa bastante em diversos aspectos. O mesmo se pode dizer a respeito dos ensinamentos e comportamentos dos personagens principais do cristianismo, Jesus, e do islamismo, Maomé. E um dos assuntos nos quais essa divergência pode ser vista é no olhar e no tratamento às mulheres.

Analisando a vida do profeta Maomé, conforme narrado por seus biógrafos muçulmanos, bem como o texto sagrado do islã, o Alcorão, é possível ver que uma das desigualdades fundamentais estabelecida seria a desigualdade entre homens e mulheres, ou melhor dizendo, a superioridade masculina presente nessa cosmovisão. Algumas passagens do Corão tratam especificamente das mulheres e da forma como o profeta Maomé entendia, ou melhor, como Allah o havia ordenado, por meio das revelações dadas a ele pelo anjo Gabriel, que as mulheres fossem tratadas por seus maridos e familiares.

Segundo o Alcorão, os homens podem se casar com até quatro esposas, como prevê a Sura 4:3. O Profeta Maomé, segundo concessão especial que lhe teria sido concedida por Allah, prevista na Sura 33:50, casou-se 11 vezes. Ainda, em muitas culturas islâmicas é possível o casamento de homens adultos com crianças, seguindo o exemplo do profeta que teria se casado com uma menina de 9 anos de idade, de nome Aisha.

Ainda com relação ao assunto casamento, o Alcorão prevê na Sura 4:34, que os maridos podem castigar suas esposas, inclusive com o uso da força física, caso entendam que as mesmas estejam sendo desobedientes. O livro Sagrado traz também muitas outras regras sobre o tratamento para as mulheres em diversas áreas. Por exemplo, pelo Alcorão, o direito à herança de um homem será o dobro do quinhão dado às suas irmãs mulheres, como se vê na Sura 4:11. Também nos termos do corão testemunho de um homem vale o dobro do testemunho de uma mulher.

Assunto ainda mais controverso no Alcorão seria a possibilidade de que muçulmanos tivessem escravas para uso sexual. Tal tema aparece nas Suras 23:5-6; 33:50; 70:29-30, 4:24. Algumas destas Suras tratam da permissão que era dada por Maomé aos seus companheiros de batalha que escravizassem e tivessem relações sexuais com as mulheres de tribos ou povos vencidos durante as batalhas. Essa prática ainda ocorre hoje em meio a grupos jihadistas muçulmanos como o Estado Islâmico, que tem sequestrado e escravizado mulheres e crianças principalmente na Síria e Iraque. O Boko Haram, grupo que atua na Nigéria, tem entre suas práticas frequentes o sequestro de meninas cristãs que se tornam escravas sexuais dos militantes do grupo.

Além de todas estas previsões corânicas, ainda há outros ensinamentos sobre as mulheres nas tradições islâmicas. Podem ser encontradas previsões que garantem, por exemplo, que enquanto os homens muçulmanos terão direito a belas virgens ao chegar ao paraíso, as mulheres sequer têm esperanças de entrar nele, já que o profeta Maomé foi claro ao dizer que as mulheres em sua maioria não herdariam o paraíso, mas iriam para o inferno.
Todos estes exemplos previstos no Alcorão e nas tradições islâmicas mostram que a cosmovisão muçulmana parte do princípio de que homens são superiores às mulheres e por isso possuem direitos sobre elas. Por sua vez, esta cosmovisão se reflete na forma como as mulheres são tratadas em muitas culturas e países muçulmanos, principalmente nos países mais fechados, como o Afeganistão.

A despeito disso, muitas são as vozes atuais que defendem a visão de que o islã dignifica as mulheres e que as regras corânicas, como o uso do hijab (véu), por exemplo, buscariam proteger e preservar as mulheres. Em contrapartida, muitas destas mesmas vozes alegam que a cultura judaico-cristã predominante no mundo ocidental mercantiliza as mulheres, as coisifica. Mas basta um olhar mais atento para as páginas da Bíblia e para o exemplo de Jesus para entendermos o grande valor que a mulher possui na criação e nos propósitos do Deus da Bíblia.

Por toda a narrativa bíblica entendemos que homem e mulher igualmente foram criados a imagem e semelhança de Deus, iguais em valor e dignidade, ainda que com papéis diferentes a desempenharem na família e na sociedade, papéis estes importantíssimos para o equilíbrio das relações humanas no mundo à nossa volta. Veja-se que o texto bíblico não fala sobre superioridade ou inferioridade de um em relação ao outro, mas sim de distinção e complementaridade.

A narrativa bíblica está repleta de heroínas, mulheres declaradas fortes, corajosas e cheias de fé, que mudaram sua própria história e a história do povo de Deus, devido a sua obediência e confiança em Deus. Basta olhar o exemplo de Débora, Raabe, Ester, Rute, Maria, mãe de Jesus, Maria Madalena, Priscila, Lídia e tantas outras. Mulheres que foram profetisas, evangelistas, rainhas, comerciantes, artesãs, esposas e mães, que trabalharam junto com seus maridos na expansão da igreja e se arriscaram pelo evangelho, que abrigaram igrejas em suas casas, que testemunharam o evangelho e foram seguidoras de Jesus durante sua vida e após sua morte.

Jesus pessoalmente caminhou com muitas dessas mulheres, aceitou seu auxílio durante seu ministério terreno, foi seu rabi (mestre) e seu amigo, transformou suas vidas e sua visão de mundo e fez delas anunciadoras de boas novas, como acontece com a mulher samaritana com que Jesus se encontra em um poço nas terras de Samaria (Evangelho de João capítulo 4). Ou como Maria Madalena, uma mulher impura e pecadora, curada e mudada por Jesus, que tem o privilégio de ser a primeira pessoa a ver e conversar com o Cristo ressurreto e a primeira a testemunhar sobre a ressurreição de Jesus.

Além disso, especialmente no que tange ao casamento, bem diferente das regras previstas no corão e vistas acima, a Bíblia prescreve que os “maridos, cada um de vós amai a vossa esposa, assim como Cristo amou a sua Igreja e sacrificou-se por ela” (Efésios 5:25). A Bíblia diz ainda que a mulher é a coroa do seu marido (provérbios 12:4) e a demonstração do favor de Deus (provérbios 18:22). Tudo isso deixa claro a visão bíblica sobre a mulher, que ela foi criada para ser amada e respeitada e não tratada como inferior, mas para caminhar lado a lado com o homem no cumprimento dos propósitos de Deus.

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