Família, de acordo com o dicionário Michaelis [1], compreende um “conjunto de pessoas, em geral ligadas por laços de parentesco, que vivem sob o mesmo teto; pessoas do mesmo sangue ou não, ligadas entre si por casamento, filiação, ou mesmo adoção”. Desde as civilizações antigas, a família tem sido a base em todas as sociedades, pois é o primeiro contato do ser humano com a vida em comunidade. Para o Islã não é diferente. De acordo com o texto, A Família Muçulmana [2]: “Esta elevada edificação cultural, a família, é a expressão de um sentimento natural, um anelo íntimo e um desejo inato de ser sociável, amigável e atencioso”.
Os apologistas muçulmanos dizem que o Islã acredita não haver diferença entre homem e mulher. Ainda acrescentam que o Alcorão confirma isso, como na Sura 16.97, que diz: “A quem faz o bem, seja varão ou varoa, enquanto crente, certamente, fá-lo-emos viver vida benigna. E nós os recompensaremos com prêmio melhor que aquilo que faziam”. Logo, o que diferenciariam o homem da mulher seriam apenas as tarefas que Allah confiou a cada um deles.
Como fala SCHIRRMACHER [3]: “Assim como as mulheres dão à luz e são responsáveis pelo lar e pela família, os homens são responsáveis pela proteção e manutenção do lar. […] tarefas diferentes significam direitos diferentes, portanto não passa de uma questão de “justiça entre sexos” o fato de que somente meia porção caiba à mulher, uma vez que ela não tem a responsabilidade financeira pela família.” (SCHIRRMACHER, 2017)
Vale ressaltar que as leis citadas a seguir são com base na Sharia (lei islâmica) e que a aplicabilidade dessa lei varia de país para país, pois há países que têm a Sharia como lei vigente. Muçulmanos nos países seculares devem seguir as leis do país e não a Sharia.
O Islã diz que homens e mulheres são iguais no sentido de terem a promessa de entrar no paraíso, contanto que eles observem os cinco pilares do Islã. Mas há veracidade nisso? Por exemplo, durante a menstruação e após o parto, as mulheres são excluídas das práticas religiosas, isso por si só já implica numa desvantagem enorme. Se estivéssemos falando de uma corrida, elas já ficariam para trás com uma enorme desvantagem. Assim, é claro que há uma diferenciação muito maior do que apenas relacionada a papéis.
“Somente os homens devem participar das orações de sexta-feira na mesquita e ouvir o sermão, cujo conteúdo é frequentemente de importância política e social. Se as mulheres ainda assim forem à mesquita, elas ficarão separadas dos homens em um espaço pequeno, geralmente sem mobília, na sacada ou porão, o qual, por vezes, encontra-se em mau estado em razão do pouco uso.” (SCHIRRMACHER, 2017) Além disso, a maioria das mulheres não sabe árabe, tornando ainda mais difícil para elas recitarem por completo as orações rituais, ler e compreender o Alcorão e fazer o Hajj (peregrinação realizada à cidade santa de Meca).
Em alguns países, a obrigatoriedade do uso do véu ocorre até mesmo no meio familiar, um homem não pode ver uma mulher sem véu; uma vez que para o Islã, ver um homem se relacionando com uma mulher sem intenção voltada para a sexualidade não é algo normal. “A família estendida admite certo nível de contato, porém a interação inócua dos sexos fora do círculo familiar é impossível e cheira a adultério. Os teólogos muçulmanos recomendam inclusive às mulheres que não cumprimentem parentes em público, já que um possível transeunte não terá como saber que há parentesco entre ambos.” (SCHIRRMACHER, 2017)
A criação das crianças é diferenciada de acordo com o sexo. Os meninos, depois da circuncisão, são apresentados pelo pai ao mundo masculino, enquanto que a menina é ensinada pela mãe sobre as responsabilidades domésticas, sendo assim preparadas para o casamento e a maternidade.
Ao que diz respeito à parte judicial, a mulher é prejudicada em vários aspectos. Como por exemplo: se houver discórdia, o homem tem o direito de ignorar ou bater na mulher (surata 4.34); a mulher só tem direito à metade da herança; o testemunho de uma mulher não vale completamente, equivale somente à metade do testemunho de um homem. Além do fato de o homem poder ter até quatro mulheres e quantas concubinas quiser. O Corão fala que o peso do testemunho de um homem equivale ao testemunho de duas mulheres; uma vez que mulheres são seres emocionais, suas oscilações emocionais seriam constantes, o que tira da mulher o crédito de suas palavras, como se essas oscilações tornassem inexistentes as próprias lembranças da vítima. Até a forma de divórcio para o homem é muito mais fácil do que para a mulher. Para ele, basta somente pronunciar “eu te repudio” três vezes sem precisar sequer ir ao tribunal. Enquanto isso, para a mulher, é necessário provar uma grave conduta do marido no tribunal. Mesmo provando a grave conduta do marido e conseguindo o divórcio, a mulher só tem direito à pensão por alguns meses, deixando-a sem sustento e sem os filhos, uma vez que a custódia dos filhos é do marido.
Entre tantas outras diferenças existentes, é incontestável o fato de que a mulher é tida como inferior dentro do Islã. Desde o nascimento até a possibilidade de chegar ao Paraíso. Em alguns países é um desafio nascer mulher no Islã, ser uma mulher muçulmana, com suas obrigações e formas de como se portar, com quem falar, possivelmente não ter a chance de estudar, estar sempre subjugada, sofrer psicologicamente e, por muitas vezes, fisicamente, não ter liberdade nem para escolher aquele que será o seu marido, entre tantos outros pontos. São nessas diferenças que a dor silenciosa da mulher muçulmana surge. E é por meio dessa dor que o Deus da Bíblia se revela para essas mulheres. É no desfavorecimento dos homens e de Allah que Jesus Cristo se apresenta como aquele que não só as considera, mas as respeita, as ama, as chama para serem filhas, oferecendo-as a água viva que jorrará vida e que será plena no céu, no qual Ele mesmo foi preparar lugar para elas também.
Deus é comunidade e cria a família como um ambiente de amor, cuidado, cumplicidade, apoio, empatia e cooperação. Apesar de os povos, na medida que se desenvolviam, fossem criando suas concepções pessoais dos papéis de cada um, a ideia de Deus para o homem é supracultural; e nós, como cristãos, devemos dar à mulher o valor que Javé dá ao ser humano criado a sua imagem e semelhança. Como registrado nas escrituras, Cristo derrotou na cruz todo sistema de opressão, todas as injustiças sociais e, por isso, devemos renovar nossa mente, pregar a igualdade e proclamar o Evangelho de liberdade às mulheres aprisionadas pela religiosidade.
[1] Dicionário Michaelis On-line.
[2] Texto A Família Muçulmana, 2014, traduzido por Ismail Ahmed Barbosa Júnior, disponível no site Portal Arresala.
[3] CHRISTINE SCHIRRMACHER, ENTENDA O ISLÃ, EDITORA VIDA NOVA, 2017.
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Apesar de considerarmos injusto e brutal a realidade vividas por essas mulheres muçulmanas de países sob a Sharia, é importante lembrar que países cristãos como o Brasil já trataram as mulheres semelhantemente. Assim como podemos defender o evangelho verdadeiro como libertador para as famílias em detrimento de um cristianismo deturpado culturalmente pelo machismo, eles podem alegar isso… Não sei. Fiquei com essa dúvida e questionamento. Espero que me respondam.