Perseverança
“Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta.”
Hebreus 12:1
Perseverança | s.f. : ação de perseverar; característica daquilo ou daquele que persevera; persistência ou tenacidade; firmeza ou constância; obstinação.
Quem quer que tenha escrito a Carta aos Hebreus certamente compreendia as implicações práticas de seguir o Cristo, e servir a Seu Reino eterno. Corria o primeiro século da Era Cristã, e, apesar dos diversos episódios sangrentos em que muitos perderam a vida sob a espada de Roma por causa de sua confissão que afirmava que “Somente Cristo” – e não César – “é Senhor sobre vida e morte”, a principal fonte das perseguições enfrentadas pelos cristãos eram a intolerância, o preconceito e o ódio por parte de suas próprias famílias, comunidades e círculos sociais. Esta “nova crença” fazia dos discípulos do “Caminho” um grupo encarado como dissidente e subversivo, por aqueles que se sentiam ofendidos ou ameaçados pela mensagem e estilo de vida encarnado pelos crentes em Jesus. Discriminados, segregados, agredidos e, por vezes, mortos por suas próprias famílias e vizinhos, nossos primeiros irmãos eram natural e grandemente tentados a abandonar sua fé, e a regressar às antigas crenças e práticas de sua outrora vã maneira de viver.
A despeito do cenário nada favorável, entretanto, o autor de Aos Hebreus encoraja seus primeiros leitores a permanecer firmes em sua fé no Cristo – que encerra, em Si mesmo, todo o sentido e cumprimento do sistema sacrificial do Antigo Testamento – e, então, usa o exemplo dos muitos justos que morreram na fé, sem receberem as promessas, “mas vendo-as de longe, e crendo-as e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra” como modelo a ser seguido na sacrificial caminhada rumo à “pátria celestial”.
Se você ler o capítulo 11 da carta, vai perceber que a vida desses santos não foi nada fácil, para dizer o mínimo.
A lista destes que...
A lista destes que, hoje, conhecemos como “heróis da fé”, tem nomes como o de Abel, a primeira vítima de assassinato na história; Noé, que provavelmente foi chamado de “lunático” e suportou a zombaria de uma multidão cujo deboche só cessou quando a primeira gota de chuva anunciou que o impensável ia mesmo acontecer; o simpático casal de velhinhos – Abraão, o homem de 100 anos de idade que, ainda sem um filho sequer, teve seu nome mudado para “pai de muitas nações”, e sua mulher, Sara, cuja pele enrugada ao longo de 90 anos e o sorriso falhado pelo tempo eram incompatíveis com o riso materno de quem segura nas mãos ossudas um filho do próprio ventre; Moisés, que trocou o palácio pelo deserto, o cetro pelo cajado, e conduziu o povo de Deus até à cerca da terra prometida; e, claro, os “anônimos”, que, “pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos, (…) receberam pela ressurreição os seus mortos, uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição, e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões, foram apedrejados, serrados ao meio, tentados, mortos ao fio da espada, andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados, homens dos quais o mundo não era digno, errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra”.
Cada um destes santos, estes homens e mulheres que trilharam, muito antes de nós, este caminho estreito e sinuoso da fé no Deus que não pode ser visto, acabou se tornando parte de um grupo seleto, uma verdadeira elite. É gente de quem Deus não se envergonha, que, aliás, O agradou tanto, que Ele tem prazer em ser conhecido como o Deus deles. Mas, para andar com Ele e fazer parte de Sua história, estes santos não só creram no que ouviram, mas perseveraram em acreditar e seguir o Deus que nunca mente.
E foi com o coração aquecido pela chama da esperança, reavivado pelo legado desta “nuvem de testemunhas”, que os primeiros leitores de Aos Hebreus foram então convocados a correrem com perseverança a carreira que lhes estava proposta, a despeito de quão difícil e penosa fosse a estrada que os levaria de volta aos braços sempre abertos do Carpinteiro que um dia teve as mãos cravadas em madeira maldita.
Um par de milênios
Um par de milênios mais tarde, a nuvem de testemunhas se agigantou incalculavelmente, mas me pergunto se decidiremos ou não nos agarrar à mesma perseverança que em seus braços carregou toda aquela gente falha e limitada até a linha de chegada e os transformou em nossos heróis. Perseverança é virtude tão necessária quanto rara em nossos dias, marcados pela exaltação do fútil e pela popularização do conceito de que tudo – de fraldas a casamentos – é descartável.
Mas, perceba, na Palavra que não muda, é dito que apenas “correr” não basta, afinal, esta carreira precisa ser terminada, e, longo o caminho, perseverança é o que faz possível a impossível façanha de chegar ao fim da lida, guardando a fé, sem se cansar de fazer o bem. Ou seja, ou se corre com perseverança, ou não se corre de jeito nenhum.
Amar o Cristo, guardar Seus mandamentos e, enfim, testemunhar de Sua Paixão a toda criatura não vai custar-nos caro. Vai custar-nos tudo. É preço alto a pagar, e você não vai conseguir entregar-Lhe este tudo, negar-se a si mesmo, tomar sua cruz e segui-lO, sem antes permitir que Ele mesmo forje em você a perseverança da qual o santo Livro fala, essa tenacidade sobrenatural que te impele a decidir fazer o que é certo, justo e bom aos olhos de Deus, a despeito de quão atroz seja ou quanto tempo dure a provação de sua fé.
O Deus dos céus busca homens e mulheres que, frágeis, fracos e incapazes em si mesmos, se disponham a perseverar em amá-lO e servi-lO, Seus olhos percorrem a Terra para fortalecer aqueles que Lhe dedicam todo o seu coração. Servos Seus que somos, a nós nos cabe o esforço para completar o restante das aflições de Cristo por Seu Corpo, a Igreja, pois, afinal, o mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, se fez manifesto a nós, os Seus santos: hoje, habita em nós o Cristo, a esperança da glória a ser anunciada a todos os homens, para que sejam apresentados perfeitos, nEle mesmo. É por isso que labutamos, lutando segundo a Sua eficácia, que em nós opera poderosamente.
Enquanto você e eu conversamos, cerca de 3 bilhões de pessoas ainda esperam, cambaleantes nas trevas, por uma Luz que ainda não sabem existir. A maioria destes são budistas, hindus, muçulmanos, animistas e pertencentes a um sem número de segmentos sócio-religiosos ainda não-alcançados pela Mensagem. Ouvir e crer no Evangelho do Cristo morto e ressurreto é a única chance de eles viverem novamente. Mas, como vão crer, se não ouvirem, e ouvir, se não há quem pregue?
Esta Tarefa, o anúncio da graça de Deus aos que ainda não ouviram, é missão digna de sua vida. De toda ela. Mas, estará você dentre aqueles que, pelos séculos, perseveraram em correr a carreira ordenada no Monte das Oliveiras e que lá mesmo há de terminar, quando o Santo de Deus sobre ali descer outra vez para finalmente julgar os vivos e os mortos?
Por favor, não se perca em si mesmo. Não desperdice sua vida em sonhos que cabem dentro de você, pois a verdadeira razão de seu existir não cabe em você. O propósito de sua vida está em Deus, em Sua Missão e em Sua glória. E é isso o que ele quer para e de você. Corra. Com perseverança. Termine a corrida. Ela pode parecer longa, dolorosa e, por vezes, insuportável até, mas, lembra-se daquela tal nuvem de testemunhas? Pois é, Sarah Groves cantou algo sobre elas que, espero, te inspire prosseguir sua jornada:
Quando eu penso...
“(…) Quando eu penso em todos aqueles que foram antes de mim
E viveram uma vida fiel, a coragem deles me compele.
Quando eu estou exausto e sobrecarregado,
Com tantas batalhas por serem lutadas,
Eu penso em Paulo e Silas no pátio da prisão,
Eu ouço sua canção de liberdade subindo até as estrelas;
Eu vejo o pastor Moisés na corte do faraó,
Eu ouço seu grito de libertação para povo do Senhor;
Eu vejo o jovem missionário na extremidade da lança,
Eu vejo sua família retornando, sem qualquer traço de medo¹ ;
Eu vejo as longas sombras das noites de Calcutá,
Eu vejo “a madre”, em pé, ao lado dos moribundos;
Eu vejo o Homem de Dores em Sua longa e turbulenta estrada,
Eu vejo o mundo sobre seus ombros e quão suave é meu fardo.
E quando os santos marcharem [para a glória], eu quero ser um deles”.²
A nuvem de testemunhas te cerca, maravilhada, das arquibancadas da eternidade, esperando pelo Dia em que você e eu terminaremos nossa própria corrida, e seremos reunidos a ela, quando a Eternidade encerrar a História, e quando as moradas celestes serão finalmente habitadas por aqueles para quem o Rei foi preparar lugar.
Até que esse Dia chegue, existe uma cruz a ser carregada, uma batalha a ser vencida, uma Missão a ser cumprida. Persevere. Os Céus torcem, e a Terra clama por você.
Maisel Rocha
Diretor M3 – Missão Mundo Muçulmano
¹Para entender esta frase, assista ao filme “Terra Selvagem” (“End of Spears”). EUA, 2006. Distribuição: Focus Filmes.
²Tradução livre de trechos de “When the Saints”, de Sarah Groves. In Tell Me What You Know. 2007.
-
Gostaria de voluntariar.
A bastante tempo tento falar com alguém até mesmo pelo face mas não tive retorno.
O professor Maisel Rocha disse que vocês precisam de voluntários eu quero ajudar no que for.
Sou cristã e amo vidas.
Meu telefone é 31 75445758 tim.
A paz.-
Natalia, teremos um encontro com novos voluntários no próximo sábado (dia 14), será um prazer tê-la conosco:
http://m3.org.br/encontro-para-novos-voluntarios-m3/
-