Escrever sobre uma outra religião é sempre um desafio. Há sempre o risco de ser mal interpretado, acusado de discurso de ódio, considerado herético por deslizar para o sincretismo, de ser arrogante em declarar que há apenas um caminho para Deus, e etc.
Ainda assim, nos posicionamos, instigados pelas Escrituras a proclamar, verbalmente (euangelizo, diangello, katangello, kerysso, etc.) a boa nova da salvação através de Jesus e a instituição do Reino de justiça, que será pleno em um tempo futuro, nesta terra, tendo o próprio Cristo como Rei.
Jesus é o Rei, que mesmo sendo Deus, morreu por amor à criação, e ressuscitou, nos dando vida em abundância, nos tornando um, para a glória do Pai e dele mesmo.
Além de proclamar este evangelho, somos instigados a reconciliar os que estão longe, a persuadir (2 Co 5.11-21) os que têm o entendimento “cegado”, a dar razão dessa esperança que temos pela fé (1 Pe 3.15-17). Em tudo, tendo o amor em alta estima. O Exemplo maior de Jesus é o amor e em amor devemos fazer tudo o que somos vocacionados a fazer.
Sendo uma missão cristã, que trabalha dentro de temáticas do islamismo, reforçamos sempre a necessidade de diferenciar o Islã e os muçulmanos. Os muçulmanos são muito diversos entre si, não existindo uma mesma visão e comportamento entre os quase 2 bilhões de adeptos ao islamismo no mundo hoje. A despeito do conceito de comunidade islâmica, a Ummah, que representa todos os muçulmanos, dentre outros fatores, a falta de um Califa, governando sobre um Califado, faz com que os muçulmanos discordem fortemente entre si.
Há os muçulmanos sunitas, xiitas e ibadistas; há muçulmanos místicos (sufistas); há muçulmanos conhecidos como progressistas ou liberais, que têm uma visão da religião desassociada do Estado, defendem os direitos humanos, igualdade entre homem e mulher (vivem, geralmente, em países do ocidente). Há muçulmanos tradicionais, agarrados à cultura, defensores da Sharia; há muçulmanos radicais, considerados terroristas, islamitas, islamistas e seria quase interminável as muitas classificações, feitas pelos ocidentais, em relação à diversidade entre os muçulmanos. Sendo que um muçulmano pode ser sunita-progressita-sufista, xiita-conservador-islamita, sunita-radical-islamista, e etc.
A grande maioria dos muçulmanos são, o que consideraríamos como “pessoas decentes”. São hospitaleiros, carinhosos, festivos, bons vizinhos, prezam pela educação de todos, são pacifistas, honestos e bons cidadãos. Sim, a grande maioria dos muçulmanos acredita seguir o único caminho verdadeiro, estabelecido e esclarecido por Maomé, seu profeta, revelado por Alá, seu único deus e que esse caminho é um camino de paz.
Porém, a grande maioria desses muçulmanos não fala árabe (85%), nunca leram o Alcorão (que apenas é sagrado e verdadeiro em árabe), não tiveram contato com os documentos islâmicos sobre a vida do profeta Maomé e muito menos estudaram sobre teologia islâmica. São nominais, levados pela cultura, dentro de um contexto onde há um forte respeito pelo líder religioso, não sendo permitido questionamentos, apenas a submissão.
O Islã, no entanto é uma religião formada a partir da vida do profeta Maomé, tendo como inspiração o que ele fez, falou ou aprovou pelo silêncio e pela revelação dada a ele através do anjo Gabriel: o Corão (Alcorão). O Islã é uma religião violenta desde os primórdios (e usamos aqui o termo religião, como uma forma de enxergar o Islã através do nosso pensamento ocidental, pois de fato, não existe tal conceito no Islã, sendo esse um sistema geral, que rege a vida toda do muçulmano, em todas as esferas da vida e da sociedade, um conceito teocrático) se propagou pela violência e conquista bélica, sendo as revelações corânicas claras em relação a combater os infiéis, os judeus, cristãos e todos aqueles que não se submeterem.
Aqui refletimos frente à acusação de que “associar as ações de grupos terroristas islâmicos à fé é ser injusto com a “religião” islâmica e desconsiderar a questão geopolítica das regiões”. Cito um comentário de Vanessa Gandra, presidente da M3, em nossas redes sociais:
“A questão não é de se estar desconsiderando o contexto geopolítico, mas de honestidade intelectual ao se abordar o contexto religioso, porque qualquer pessoa que se dedique a estudar o Corão e os textos sagrados relativos à biografia do profeta Maomé e for honesto intelectualmente será obrigado a reconhecer que a jihad é parte central da teologia e ortodoxia islâmica e independente de contexto, porque o próprio Alcorão, que traz versos claros sobre a morte de infieis, afirma sobre si mesmo que deriva de placas eternas escritas no céu e, portanto, todas as ordenanças do livro são eternas, atemporais e independentes de contexto ou situação. Apenas devem ser seguidas e ponto.”
Alguns argumentam que essa é apenas uma das hermenêuticas para interpretar o Corão, mas tal argumento é desbancado pelos próprios teólogos muçulmanos, que ensinam que pela doutrina da ab-rogação os versos de tolerância e paz do Corão foram substituídos pelos versos que chamamos de versos da espada e que incitam os fiéis à violência, versos esses revelados posteriormente. E sendo o Alcorão um texto “revelado” e existente eternamente no céu, não se pode usar o argumento do contexto para aplicar suas leis, que são válidas por toda a eternidade.
Em relação ao questionamento que surge nesta altura do argumento, de que as Escrituras cristãs também têm textos que incitam à violência, cito o restante do comentário da Vanessa Gandra:
“Só por aí já se vê o tamanho da deslealdade intelectual que é querer comparar a Bíblia com o Corão como estrutura de revelação, porque o Corão exclui totalmente o fator humano e contextual de sua revelação. O mesmo não ocorre com a Bíblia. Então não dá pra querer justificar a violência do Corão ou do Islã dizendo que há violência na Bíblia, porque as propostas dos livros para seus seguidores são bem diferentes. A verdade é que há uma proliferação de organizações extremistas dentro do islã porque os textos sagrados incentivam esse comportamento e o contexto geopolítico apenas agrava uma situação que tem raízes primariamente religiosas. Fechar os olhos para isso não faz com que o fato não exista.”
Sim, corremos muitos riscos quando nos posicionamos de forma politicamente incorreta em relação ao Islã. O politicamente correto nos orienta a aceitar que o Islã é uma religião de paz, mas é impossível fazê-lo diante dos documentos da Tradição islâmica e do Alcorão. O politicamente correto nos orienta a considerar o Islã como mais um meio de se chegar a Deus, contudo nas palavras do Cristo:
“Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho Unigênito de Deus.” (João 3.18)
Nesse ponto, diante à insistência de cristãos em aprovar a fé islâmica, de defender que temos o mesmo deus, que podemos caminhar sem polêmica, que podemos aceitar o Alcorão como texto inspirado, e etc., cito dois (dos muitos) versos corânicos que mostram o tamanho do abismo entre as duas religiões:
“E recorda-te de quando deus disse: Ó Jesus, filho de Maria! Foste tu que disseste aos homens: Tomai a mim e a minha mãe por duas divindades, em vez de Deus? Respondeu: Glorificado sejas! Ë inconcebível que eu tenha dito o que por direito não me corresponde. Se o tivesse dito, tê-lo-ias sabido, porque Tu conheces a natureza da minha mente, ao passo que ignoro o que encerra a Tua. Somente Tu és o conhecedor do incognoscível. Não lhes disse, senão o que me ordenastes: Adorai a Deus, meu Senhor e o vosso! E enquanto permaneci entre eles, fui testemunha contra eles; e quando quiseste encerrar os meus dias na terra, foste Tu o seu Único observador, porque és Testemunha de tudo. Se Tu os castigas é porque são teus servos; e se o perdoas; é porque Tu és o Poderoso, o Prudentissimo.” (5ª Surata Al Máida, versículos 116 a 118 do Alcorão).
“Ó adeptos do Livro (cristãos), não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão somente um Mensageiro de Deus e Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria, por intermédio do Seu Espírito. Crede, pois, em Deus e em Seus Mensageiros e não digais: Trindade! Abstende-vos disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe está a hipótese de Ter tido um filho.”(4ª Al Nisa, versículos 171 e 172a do Alcorão)
Concluo afirmando que caminhamos em amor, no desejo de fazer Jesus conhecido entre os muçulmanos, para que a salvação chegue a eles e sejam livres de fato. Nossa visão de contribuir para a formação e desenvolvimento de um movimento global de cristãos equipados para amar e alcançar muçulmanos com o evangelho de Cristo, longe de ser um ato de islamofobia, na verdade é o puro desejo de ver homens e mulheres rendidos à Cristo, passando de escravos de Alá, a pessoas que desfrutam do Reino de paz, justiça e alegria como filhos do Deus vivo.
“Apresentar o islã como ele é, como seu livro, tradições, o último dos seus profetas e como a cosmovisão islâmica oriental exigem que ele seja interpretado, não é islamofobia, mas honestidade intelectual e verdadeiro amor aos muçulmanos.”
Jônatan Ribeiro
Diretor Operacional
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Ótima reflexão
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ótimo estudo apologético que deus nos abençoe
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Obrigado pelo texto! Nos ajuda muito como fonte de consulta e parâmetro para “o que e como pensar” sobre o tema diante de tudo que temos visto relacionado ao islã, principalmente desde as duas últimas décadas até os dias atuais.