DEUS, POR MEIO DO CORPO DE CRISTO, ESTÁ LEVANDO A CABO SEU DESEJO DE LEVAR O CONHECIMENTO A RESPEITO DOS MUÇULMANOS À SUA IGREJA.

Maisel Rocha

 

Estar à frente de um ministério consolidado requer obediência e dedicação. E, foi em obediência à voz do Senhor que Maisel e Márcia Rocha renunciaram o sonho de retornar ao Níger – campo missionário onde serviram como plantadores de igrejas por cerca de três anos – para preparar cristãos para testemunharem do Evangelho a muçulmanos de diferentes nações. Em seus 10 anos de existência, a M3 – Missão Mundo Muçulmano trilhou um caminho em resposta a uma direção dada por Deus e hoje, colhe seus frutos. É sempre bom olhar para trás e ver como o autor de nossas vidas conduziu tudo até aqui. Hoje, convidamos você a relembrar o trajeto da M3 e tudo que Deus tem escrito por meio desta organização que, mesmo em meio aos desafios, tem avançado em sua contribuição para o término da Grande Comissão entre muçulmanos.

 

Como nasceu a M3?

Maisel Rocha: A M3 nasceu a partir de uma ordem que Deus nos deu. Após servirmos ao Senhor entre muçulmanos no oeste africano, minha esposa Márcia e eu percebemos a necessidade de nos capacitarmos para melhor desenvolver o ministério naquele campo não-alcançado. Assim, voltamos ao Brasil, e eu estudei enfermagem e ela, nutrição. Ao fim desse período de preparação, percebemos o Senhor claramente alterar nossos planos. Deus começou a mudar a nossa direção, depois que eu me encontrei com pastor-missionário Joshua Lingel, o fundador e diretor internacional da i2 Ministries. Eu fui traduzir algumas aulas de professores que vinham ao Brasil para ensinar missionários a respeito de como evangelizar muçulmanos e o Joshua nos convidou para trabalhar com ele. A princípio a nossa resposta foi não, pois a ideia era voltarmos para a África. Mas, foi a partir daí que Deus começou a falar claramente que, ao contrário do que a gente pensava e planejava, não era plano dEle que voltássemos para a África naquele tempo. Foi um processo doloroso. Abrir mão daquele sonho, mudar nossa mentalidade em relação ao futuro não foi nada fácil. Apesar disso, tivemos o apoio das nossas igrejas e, para nós, isso serviu como um dos sinais de que, de fato, era o Senhor quem estava à frente daquela mudança. Mas, acima disso tudo, Ele falou claramente conosco e mostrou que era tempo de obedecer, ficar e preparar outros para alcançar muçulmanos de maneira coletiva. Nós obedecemos, mudamos os planos e começamos a pensar e a discutir com o pessoal dos EUA sobre como começar. A visão geral estava meio que pronta, onde nós deveríamos fornecer um treinamento para cristãos de diferentes lugares do mundo, para que eles pudessem alcançar muçulmanos. A pergunta era como fazer isso, de maneira efetiva e com pouca experiência. E, foi após alguns meses de planejamento, tentativas, erros e acertos que chegamos a esse modelo de treinamento por vídeo dublado em diferentes idiomas. Os principais idiomas falados tanto pela igreja, quanto pelos muçulmanos ao redor do mundo.

 

Em qual ano nasceu a M3?

Maisel Rocha: Nós começamos a nos envolver com a M3 em 2005. O nome ainda não existia, ainda era i2 Ministries, o nome original, quando comecei a traduzir as aulas, os artigos usados no treinamento, para diferentes agências e organizações missionárias aqui no Brasil promovido pela i2 Ministries. Ao longo de mais ou menos um ano, nós aceitamos o convite e Deus foi deixando mais claro, sobre qual era a vontade dEle no final do primeiro semestre de 2006 e a coisa foi se estreitando. Concluímos nossos cursos ao mesmo tempo em que apoiávamos os treinamentos realizados pela i2 Ministries no Brasil. No final de 2006, Deus falou claramente com a gente sobre nos unirmos à i2, e não tivemos como retroceder. Então, em 2007, começamos a divulgar a visão e falar sobre o que Deus estava fazendo, sobre a necessidade da igreja de preparar seus membros para evangelizar muçulmanos e começamos a formar uma equipe. Esse processo durou alguns meses, até que finalmente em Outubro de 2007, nós já tínhamos todos os processos jurídicos para a abertura da organização e um grupo de pessoas suficiente para fundá-la. Nasceu então, a M3 – Missão Mundo Muçulmano, em Outubro de 2007, há exatos 10 anos.

 

Quais foram os principais desafios?

Maisel Rocha: Para nós, o maior desafio foi abrir mão daquele que era o nosso sonho. Voltar para o campo missionário africano e ficar o resto de nossas vidas lá. A nossa mente havia sido “formatada” para isso. Eu saí de casa aos 18 anos para ser treinado e enviado como missionário pra janela 10/40 e, desde então, aquele havia se tornado meu objetivo na vida. Márcia também sonhara com isso durante muito tempo e esse sonho se realizou, nós saímos do Brasil definitivamente para o campo missionário em meados de setembro de 2000 e, durante esse tempo todo, esses sete anos, estávamos ligados a isso – ser missionários, testemunhar do evangelho para povos não alcançados. Mas o Senhor havia sido claro em Sua ordem a nós, então, a despeito da nossa tristeza e “luto” pelo campo não-alcançado, nós obedecemos e passamos a, pela graça de Deus, caminhar com segurança, sabendo que a coisa ia funcionar. Nunca foi uma pergunta “será que vai dar certo?” – isso nunca passou pela nossa cabeça, mesmo nos momentos mais difíceis. As dificuldades são muito normais no começo de qualquer empreendimento. Nós tínhamos poucas pessoas. Não tínhamos ninguém na verdade. A igreja brasileira naquela época tinha muita dificuldade em compreender a relevância de preparar cristãos para evangelizar muçulmanos. Era uma visão muito nova e a maioria dos líderes com os quais a gente conversava não davam muita importância. Eu me lembro de uma conversa que tive com um relevante líder de missões no Brasil, um homem de Deus, um querido amigo até hoje. Eu o procurei para falar do desafio do alcance de muçulmanos com o Evangelho, para buscar seu conselho e apoio para mobilizar e treinar a Igreja para esse fim e, em sua sinceridade, ele respondeu: “vocês precisam entender que o islã não é um desafio do Brasil. Não é algo com o que temos de lidar aqui em nossas terras”. Quanta coisa mudou em apenas 10 anos! Eu acho que uma das maiores dificuldades foi exatamente essa, tornar a visão conhecida. Nós tínhamos muito pouco recurso financeiro e nenhum conhecimento técnico a respeito de marketing. Fazer um site, colocar vídeos no Youtube, eram coisas sobre as quais tínhamos pouquíssima noção. Outra dificuldade no começo foi a questão técnica da produção do treinamento. Não tínhamos como trazer professores todos os anos ao Brasil e, em função disso, nasceu a ideia de fazermos os treinamentos em vídeos tendo como modelo um formato já usado por alguns ministérios que tinha, na tela, o professor e o tradutor. A ideia era dublar somente o tradutor. A principio eu me opus, nós tentamos fazer isso, mas em 2010/2011 foi decidido que faríamos as gravações dos professores somente em inglês e, em 2012, a M3 deu início à dublagem desse material, o que foi um enorme desafio, já que nenhum de nós tinha experiência de como fazer isso. Não tínhamos noção de como dublar um vídeo, e por isso tivemos algumas reuniões com pessoas que eram do ramo e começamos a nos informar. Dublagem é um trabalho relativamente caro, e não teríamos condições de pagar por um serviço profissional de dublagem. Assim, a gente teve que partir para um plano B. Nós não tínhamos o vislumbre de arrecadar dinheiro para isso, até porque tratava-se de uma visão muito nova. Começamos a sonhar com um estúdio, que posteriormente nasceu no prédio da Igreja Batista do Palmeiras. Aprendi “na marra” a fazer textos para dublagens e alguns excelentes profissionais cristãos da dublagem nos ajudaram muito nesse processo, como o Alexandre de Jesus, Marcos Nepomuceno e o Wesley Lanzieri. O Seminário Teológico Carisma também foi fundamental como fonte de recursos humanos para composição da equipe e desenvolvimento dos projetos da M3. E, com o passar do tempo, os desafios foram diminuindo, Deus foi colocando novas pessoas em nosso caminho. Hoje, os desafios mais recentes continuam sendo a mobilização da igreja brasileira sobre essa necessidade e a distribuição do treinamento de maneira efetiva. Somos uma equipe pequena, abrimos núcleos de treinamento em diferentes lugares do Brasil, mas eu não acredito que seja o ideal para o momento, pois somos muito limitados em termos logísticos e financeiros. Por isso, depois de muito “quebrar a cabeça”, esse ano lançamos oficialmente a plataforma de treinamento EaD da M3, que tem se mostrado uma ferramenta muito eficaz no treinamento de pessoas de diferentes lugares do mundo.

É impressionante. Quando terminamos um desafio vem outro, por vezes até mais complexo tecnicamente. Mas, graças a Deus, temos visto a mão do Senhor agindo a despeito das nossas limitações. O próximo grande desafio é promover a continuidade de produção de matérias dubladas em português e a expansão do treinamento não somente para outras regiões do Brasil, como também para outros países de fala portuguesa. Existem no mundo atualmente nove países com fala portuguesa além do brasil, e nossa responsabilidade enquanto organização, por causa do segmento linguístico, é disponibilizar treinamento de maneira acessível às igrejas que se encontram nesses países. Em 10 anos foram muitos desafios, mas temos visto a graça e a provisão do Senhor diante de todas as nossas necessidades e limitações.

 

Como é, para você, ser testemunha do que Deus fez por meio da M3?

Maisel Rocha: Eu não sabia muito bem o que ia acontecer. Nós tínhamos uma ordem e uma promessa. Deus nos falou para fazer e ele seria o provedor de todas as necessidades. Então eu posso dizer que, ver o que está acontecendo hoje é muito mais do que eu sonhei. Não aconteceu do jeito como eu esperava, mas eu acredito que tenha acontecido de maneira mais profunda do que eu podia imaginar. Tem sido recompensador ver a propagação da visão missionária, especificamente à conscientização de muitos cristãos na igreja brasileira, em relação ao desafio muçulmano. Aliás, o maior desafio para a Igreja dessa geração e das próximas, é o testemunho do Evangelho aos muçulmanos. Assim, vejo o que a M3 faz como algo extremamente estratégico. Usar a tecnologia para difundir esse tipo de conhecimento é um modo muito eficiente de alcançar o objetivo de mobilizar e treinar a Igreja. É muito legal ver isso acontecendo, principalmente pelo fato de eu não ser, nem de longe, um expert em tecnologia. Por isso, a importância dos diferentes dons e talentos dos membros do Corpo de Cristo. Temos uma excelente equipe e, pela graça de Deus, esse grupo tem feito muito mais do que eu podia desejar. Eu acredito que temos exercido um papel muito relevante e muito sólido, e o que eu acho interessante é que nós não teríamos conseguido fazer as coisas na velocidade que eu gostaria de fazer. Mas, mais importante que isso, é que o nosso lento crescimento foi muito consistente. A M3 hoje é bastante consolidada em termos de compromisso com a visão e responsabilidade com aqueles que divulgam e promovem. Ao longo desses dez anos conseguimos atingir um bom nível de maturidade. Eu pude, além disso, ver coisas que a gente fez aqui, dentro do nosso escritório, do estúdio, sendo usadas para alcançar outras igrejas e outras nações. É por meio de muitas coisas que fizemos aqui, que a gente pode servir e equipar líderes e igrejas para o cumprimento da Grande Comissão entre muçulmanos, e isso é muito recompensador. Ao mesmo tempo, para mim, a melhor parte de todas, não são os projetos, mas ver o efeito disso na vida das pessoas. nesses 10 anos, vi muita gente que não tinha a menor consciência sobre muçulmanos e que hoje dedica sua vida, por meio da M3 ou de outras organizações em outros países do mundo, a alcançá-los com o amor de Deus revelado no Evangelho. Os desafios nunca vão acabar, mas eu sou muito grato a Deus por aquilo que Ele tem feito e nos permitido viver, enquanto organização. Eu não faria outra coisa da minha vida. É melhor do que eu pude imaginar. Sou muito grato por ver o que Deus fez nesses 10 anos. Às vezes, quando a M3 está fazendo alguma conferência ou treinamento envolvendo um grande número de pessoas, eu vejo a excelência com que a equipe se dedica a servir ao Senhor e à Sua Igreja, eu viro pra Márcia e pergunto: “de onde foi que veio tudo isso?”. Certamente, não veio da nossa capacidade, habilidade ou competência. Não é necessário ser humilde para reconhecer o óbvio: não fosse por Ele – por Seu desejo, ação, provisão, sabedoria, graça e misericórdia – nada disso teria sido feito. A despeito da satisfação que o meu coração tem em relação àquilo que a M3 é hoje, eu tenho plena consciência de que as coisas que estão acontecendo, não acontecem por causa de mim ou de nós – nossas habilidades e dons são extremamente limitados. Deus está levando a cabo Seu desejo de despertar cristãos em todo o mundo para se unirem a Ele na colheita de almas que Ele está promovendo entre muçulmanos e, para o nosso benefício, tem nos dado o privilégio de participar dessa gratificante tarefa. É bom demais fazer parte disso!

 

Qual a expectativa em relação a esse novo ciclo que se inicia?

Maisel Rocha: Eu quero ver a expansão do conteúdo, a produção de treinamento acontecendo de forma mais rápida, mais ágil. Isso é fundamental, tendo em vista o cenário mundial atual, e envolve a provisão de recursos financeiros e principalmente humanos – pessoas que sejam comprometidas, capacitadas e que tenham recebido da parte de Deus a responsabilidade de servir nessa iniciativa. Enquanto houver cristãos no mundo que tenham algo a ensinar à Igreja para o alcance de muçulmanos, desejamos dar nossa contribuição à Igreja, fazendo com que o conhecimento seja disponibilizado de modo acessível, ágil e eficiente a todos os que tenham o desejo de compartilhar do amor de Deus com nossos amigos muçulmanos. Meu desejo é que a M3 cresça em serviço a outras agências missionárias, seminários, igrejas e denominações aqui no Brasil e fora do país também. Eu costumo dizer que nós não somos um Centro de Treinamento, mas um “Decentro” de Treinamento. Em vez de incentivarmos nossos irmãos de outros estados ou países a vir a Belo Horizonte para serem treinados, trabalhamos para levar o treinamento até eles, onde quer que estejam. Por isso a importância das plataformas de treinamento. Além de treinar o crente da igreja local e seus líderes, nós temos também o objetivo de disponibilizar o treinamento e servir as agencias missionárias que já existem que já fazem um bom trabalho de treinamento e envio, mas que carecem de solidez no que tange ao alcance de muçulmanos com o Evangelho. Uma expectativa que tem mexido muito com o meu coração, é que nós há alguns anos, criamos uma iniciativa – a M3 Kids – que é um braço da M3 que visa mobilizar e ensinar crianças a respeito da Missão de Deus, forjando nelas uma mentalidade missional e incentivando-as a definir suas vidas em função da vontade de Deus e da vocação no término da Grande Comissão. E isso tem acontecido de uma forma muito interessante e bela. Nós temos visto Deus agir nesse sentido entre os pequeninos. Vivemos uma crise causada por uma desobediência geracional ao mandado missionário divino. Eu não acredito que seja vontade de Deus que uma Igreja tão grande quando a Igreja brasileira envie tão pouca gente aos que menos ouviram o Evangelho. Isso não me parece coerente com aquilo que lemos nas Escrituras. Nos últimos dois anos, percebemos o Senhor fazer nascer em nós a paixão por ensinar missões às crianças e adolescentes na sua própria linguagem. Temos desenvolvido conteúdos, literatura, jogos, e outros recursos no intuito de oferecer às novas gerações a chance de tomar um rumo diferente do nosso. Nosso anseio é que elas tenham a oportunidade de, desde cedo, entender que é um privilegio se juntar a Deus na Missão. Essa tem uma das minhas principais expectativas: conseguir continuar servindo aos adultos, mas também as crianças e aos adolescentes. Eu espero mesmo que a gente, daqui a alguns anos, possa ver mais frutos por meio da M3 e sonho que, em algumas décadas, talvez no próximo século, o mundo possa ver movimentos missionários emergindo do Afeganistão, Paquistão, Índia, Arábia Saudita e outras nações hoje consideradas “fechadas” e não-alcançadas, resultantes do agir de Deus por meio da semente do Evangelho que semearmos em nossos dias. Talvez venha o tempo em que a Europa e as Américas experimentem avivamento por meio da ação de Deus através de missionários afegãos, paquistaneses, indianos, sauditas enviados pela Igreja de seus países, porque décadas antes missionários brasileiros foram lá e dedicaram suas vidas – alguns deles sua própria morte – para que o Evangelho fosse anunciado nesses países hoje não alcançados. Eu acredito nisso e temos lançado sementes com os olhos no futuro, acreditando que Deus é poderoso pra se valer do nosso serviço tão limitado para fazer coisas que transcendam a morte e adentrem a eternidade.

Maisel Rocha é fundador da Missão Mundo Muçulmano em Belo Horizonte – MG.

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