Por Vanessa Miranda

Maomé, o conclamado grande e último profeta do Islã, poderia facilmente receber a alcunha de profeta guerreiro.

Durante sua vida e ministério profético, Maomé participou de inúmeras batalhas e planejou muitas outras, para sermos mais exatos, acredita-se que Maomé tenha participado de 80 a 84 batalhas. Durante os últimos nove anos de sua vida, segundo constam de suas biografias, é provável que ele tenha se envolvido em 27 batalhas e planejado outros 59 ataques.

Os primeiros anos do ministério profético de Maomé, passados em Meca, entre 610 e 622, foram mais pacíficos. Maomé tentava firmar-se como profeta enviado por Allah e estabelecer uma nova religião monoteísta, sendo primeiramente aceito por muitos em sua família e tribo, os coraixitas. Todavia, o discurso de Maomé passou a desagradar a muitos na cultura politeísta de Meca, incluindo sua própria tribo, forçando o profeta a retirar-se para Medina.

A partir do evento conhecido no mundo muçulmano como Hégira, em 622, e que marca o início do calendário islâmico, sendo o momento de retirada do profeta de Meca para Medina, vemos uma alteração de postura em Maomé e seus seguidores, com um endurecimento de seu discurso e uma maior atuação militar.

Em Medina, devido a sua habilidade política e como estrategista, Maomé conseguiu amplo apoio, com exceção de alguns grupos minoritários, como algumas tribos judaicas. Com este novo apoio e uma expansão do número de seguidores, inicia-se o período de campanhas militares, saques e pilhagens a caravanas comerciais.

Provavelmente, a mais famosa campanha militar do Islã foi a então chamada Batalha de Badr, ocorrida em 624, na tentativa de reconquista de Meca por Maomé. Nos dizeres de Susan Tyler Hitchcock e John L. Esposito, em seu livro ‘História das Religiões; onde vive Deus e caminham os peregrinos’, tal batalha pode ser assim resumida:

As caravanas que iam a cidade (Meca) e de lá voltavam tinham de atravessar Medina. Os seguidores de Maomé estavam numa posição privilegiada para atacar os mequenses e tomar-lhes camelos e mercadorias, a um passo de reconquistar a cidade santa. Sabendo do propósito de Maomé de assaltar as caravanas que desciam de gaza, mil homens marcharam de Meca para o norte para defendê-las. As caravanas contornaram Medina, seguindo ao longo da costa, mas Maomé mandou todas as forças de que dispunha – cerca de 300 homens – até Badr, povoação importante por seus poços. Após uma noite de vigília recitando o Alcorão, Maomé e seu pequeno exército derrotaram o pessoal de Meca. A batalha de Badr (624) foi um momento determinante na história do islamismo. (pág. 364).

Após esse triunfo, Maomé consagrou-se como líder militar, tendo outras batalhas se seguindo, tal como a batalha do fosso, em 627, iniciada pelas tribos de Meca, como forma de retaliação pela batalha anterior e saques. Novamente, os muçulmanos liderados por Maomé saíram vitoriosos, o que possibilitou um acordo com os mequenses e a peregrinação de Maomé e seus seguidores à cidade de Meca, no evento que posteriormente ficou conhecido como hajj e ainda hoje é um dos pilares da fé islâmica.

Muitos devotos muçulmanos na atualidade afirmam que as inúmeras batalhas travadas por Maomé e seus discípulos trataram-se, na verdade, de eventos de autodefesa, ou seja, não iniciadas pelos adeptos do islã, mas por seus inimigos, tendo todo o esforço bélico dos muçulmanos sido forma de defesa contra esses ataques injustos. Todavia, a história e os registros biográficos do profeta deixam claro que nem todos os confrontos se deram assim.

Em muitos casos, como na realização de saques e pilhagens a caravanas comerciais, o ataque se deu por iniciativa de Maomé e seus seguidores, como no caso do ataque à caravana coraixita de Nakcla, um povoado não distante de Meca. Inicialmente Maomé condenou o ataque por ter sido perpetrado no mês sagrado de Rajab (período acordado como de tréguas de combates e ataques por ser um tempo sagrado); todavia, após a revelação do trecho da Sura 2, aya 217 do Alcorão, o assalto foi justificado, pois toda resistência ao profeta seria ato suficiente para justificar ataques e pilhagens, mesmo contra não combatentes explícitos do islã, contra civis.

Muitas outras batalhas poderiam ser aqui citadas, mas resta claro, pela história de conquistas do Islã, que como líder religioso, político e militar Maomé deixou um legado que se transformou em fonte de inspiração para as gerações seguintes. Os muçulmanos viam-se como agentes da jihad empenhados em combater aquilo que viam como sendo o mal e expandir o Islã até os confins da terra e a criação do califado ou governo universal do Islã, seguindo o exemplo de seu profeta guerreiro.

BIBLIOGRAFIA:

– Hitchcock, Susan Tyler. História das Religiões; onde vive Deus e caminham os peregrinos. São Paulo: Editora Abril, 2005.

– Spencer, Robert. Manual politicamente incorreto do Islã e das Cruzadas. Campinas, SP: Vide Administrativo, 2018.

Write a comment:

*

Your email address will not be published.

© M3 - Missão Mundo Muçulmano
Topo
Redes Sociais: