O fundamentalismo recebeu uma conotação pejorativa, associado ao fanatismo, por acreditar em seus dogmas como verdade absoluta, indiscutível, sem abrir espaço para o diálogo, levando o indivíduo a cometer agressões físicas e verbais a qualquer opinião contraria à sua. Isso vem acontecendo em várias religiões, e com o Islã não tem sido diferente. O fundamentalismo islâmico é uma ideologia política e religiosa, respaldada através da Sharia (Lei Islâmica) que coordena vários aspectos da sociedade islâmica. O discurso dos fundamentalistas sobre o seu objetivo principal é voltar aos princípios primordiais do Islã quando se iniciou com Mohamed, no século VII, na Arábia Saudita. Acreditam que o Islã atual tem se desviado ou se corrompido pela adoção de princípios contraditórios à identidade original e atitudes extremas passaram a ser executadas.
Com os conflitos internos entre ideologias dentro do Islã, como por exemplo os xiitas e sunitas, os avanços da globalização e da cultura ocidental através das ocupações dos países potências e os meios de comunicação em países muçulmanos, vários movimentos e organizações fundamentalistas consideradas terroristas, surgiram para combater qualquer tipo de reforma e modernização islâmica, no desejo de remover influências não muçulmana e criar um estado que fosse totalmente regido pela Sharia. Então, a palavra jihad (guerra santa) passou a ser usada frequentemente por eles, com atitudes agressivas contra todos aqueles que não fossem seguidores do Islã e dos líderes muçulmanos, que “abraçaram” o ocidente (muçulmanos moderados).
Com a expansão do movimento wahhabita (considerado a raiz dos movimentos fundamentalistas), fomentou ainda mais o fundamentalismo entre os muçulmanos. Organizações extremistas como Taliban no Afeganistão e Paquistão, Irmandade Muçulmana no Egito, Al-Qaeda que deu início no Afeganistão e se espalhou para países na Ásia e África, Al-Shabaab na Somália, Boko Haram na Nigéria, entre outros passaram a ter mais visibilidade no cenário internacional, onde muçulmanos e adeptos de todo o mundo, influenciados pelo fanatismo e extremismo, usam discursos violentos com base no Corão, nas tradições do profeta e nas interpretações teológicas feitas por líderes e políticos religiosos, direcionando qualquer religioso a reviver a versão política de Maomé vivenciada em Medina. O resultado foram as atrocidades das guerras que vai além do conflito religioso e entre culturas. Atualmente, esse movimento do terror está tomando uma proporção que vem crescendo e, ao mesmo tempo, preocupando a todos que se sentem ameaçados por ele.
Os fundamentalistas têm mostrado desespero em suas ações que violam os direitos individuais de cada pessoa e resulta na eliminação da esperança, onde a justiça (do seu bem prazer) vale mais do que a vida, sendo que a vida e a dignidade humanas deveriam ser prioridades na base dos princípios, valores, convicções ou crenças.
É importante fazer uma reflexão construtiva sobre o avanço do fundamentalismo, como ele vem sendo utilizado e suas consequências. Necessário também se fazer uma reflexão sobre a identidade original da religião que, com o passar do tempo, tem mudado ou não, qual o seu propósito e por que segui-la. Dois questionamentos surgem quando nos deparamos com essa realidade tão complexa: os muçulmanos radicais estão voltados a uma religião de guerra/política de origem ou ações externas que influenciaram muçulmanos a tomarem atitudes mais agressivas, usando o discurso religioso para ter mais aceitação pelas pessoas oprimidas e descontentes com sua realidade? Os dois questionamentos podem ter sua afirmação, mas a raiz do problema também não pode ser negada – a base ideológica original do Islã.
Os acontecimentos históricos e atuais nos mostram que voltar às práticas de quando Mohamed (o símbolo da moralidade absoluta) fundou o Islã (período político em Medina) seria de um anacronismo letal, no qual o resultado tem sido o aumento do radicalismo, morte e sofrimento de milhares de pessoas, uns pela ignorância e outros por ser a única saída que os restam.
Que venhamos nos posicionar antes de tudo a favor da paz e da disseminação da esperança através das Boas Novas e repudiar toda manifestação que promova a violência e o desrespeito à vida humana.
Referência
O que é o wahabismo, a raiz ideológica do Estado Islâmico http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/151222_wahabismo_origens_fn
Quem são e o que querem os grupos extremistas que propagam o terror http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/11/quem-sao-e-o-que-querem-os-grupos-extremistas-que-propagam-o-terror.html
Artigo no Blog M3 – Desradicalização do Islã: É possível? http://m3.org.br/desradicalizacao-do-isla-e-possivel/