República Islâmica do Afeganistão
(Jamhuri-ye Islami-ye Afghanistan)

 

 

 

Por

David Neder Issa Fortuna

Paulo Cesar de O. M. Júnior

 

HISTÓRICO

A fundação do país remonta o ano de 1747, quando da unificação das tribos pashtun feita por Ahmad Shah Durrani (1722-1773) – primeiro Emir do Afeganistão, fundador da dinastia Sadozay e rei eleito no mesmo ano de 1747. Entretanto, a sua independência do domínio britânico foi alcançada somente um ano após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918); antes, o país serviu como um estado-tampão localizado entre o Império Britânico e o Império Russo.

A jovem república, fundada em 1919, sofreu um golpe 54 anos depois – em 1973, portanto – e um contragolpe comunista em 1978. Logo no ano seguinte, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) invadiu o país com o intuito de solidificar as bases do recém-instaurado regime comunista afegão. Obviamente, essa invasão, como qualquer outra, resultou em uma guerra longeva que destruiu o país.

Já em 1989, ano marcado pela queda do Muro de Berlim e pelos momentos finais da Guerra Fria (1945-1991), a URSS se retirou do Afeganistão sob forte pressão de rebeldes mujahidin anticomunistas apoiados pela sociedade internacional. O resultado foi uma série de guerras civis que assolaram o país no início da década de 1990 e a tomada do poder, em 1996, pelo Talibã; um movimento recém-criado e apoiado pelo Paquistão com o intuito de pôr fim a esse cenário de conflitos internos.

No ano de 2001, a Conferência de Bonn teve como resultado o início de um processo de reconstrução política que passava pela adoção de uma nova Carta Magna, uma eleição presidencial a ser realizada em 2004 e eleições legislativas no ano de 2005. Hamid Karzai fez história ao ser declarado o primeiro presidente afegão eleito democraticamente (e reeleito para um segundo mandato a partir de 2009). Em 2014, mediante acusações e trocas de farpas entre Abdullah Abdullah e Ashraf Ghani, os dois presidenciáveis que foram para o segundo turno das eleições, os EUA decidiram fazer uma intervenção diplomática que culminou na formação do Governo de Unidade Nacional: Ghani foi empossado como presidente e Abdullah como Diretor Executivo. A eleição presidencial seguinte foi marcada para setembro de 2019.

 

GEOGRAFIA

Conforme visto no mapa abaixo, o Afeganistão é uma pequena nação com uma área total de 652.230 mil Km2 (a título de comparação, o estado de Minas Gerais possui uma área total de 586.528 mil Km2) e está localizado no Sudeste da Ásia; a noroeste do Paquistão e a leste do Irã. Cabul é a capital nacional e a maior área urbana do país – possui uma população de pouco mais de 4 milhões de habitantes.

 

SOCIEDADE

O censo demográfico de julho de 2018 indicou que a população afegã é composta por 34.940.837 habitantes que são divididos, principalmente, entre as etnias Pashtun, Tajik, Hazara e Uzbek – que juntamente com outras dez são reconhecidas oficialmente como grupos étnicos afegãos pela Carta Magna de 2004.

Dados de 2017 mostram que dois são os idiomas oficiais do país: persa afegão (Dari), que é falado por 77% da população e Pashto, que é a opção de 48% dos afegãos. Além disso, a população local também faz uso de idiomas como Uzbek (11%), inglês (6%), árabe (1%) e outros. Como se pode notar, a somatória do percentual da divisão dos idiomas passou de cem, e o motivo para tal é porque grande parte dos entrevistados se declarou bilíngue e apontou mais de um idioma usualmente falado.

O último censo demográfico que se preocupou com a distribuição por crença data do ano de 2009. Na ocasião, 99,7% da população se declarou muçulmana, sendo que algo entre 84,7% e 89,7% seguem a vertente sunita da religião islâmica.

Apesar de os relatos de Eusébio de Cesareia (265-339), tido como o pai da história da Igreja, apontarem para indícios de que o cristianismo tenha chegado ao noroeste do país por meio dos apóstolos Tomé e Bartolomeu, no século II, e apesar de, no século XVII, comerciantes armênios terem se instalado em Cabul e desenvolvido nessa mesma cidade uma pequena comunidade cristã, pelo menos desde a metade do século XIX a profissão da fé cristã no país se dá de forma clandestina e secreta. Isso significa (i) que não há nenhuma igreja cristã organizada no Afeganistão; (ii) que materiais cristãos não podem entrar no país; (iii) que a internet é monitorada para que não haja propagação de conteúdos cristãos; (iv) que muçulmanos convertidos ao cristianismo são levados a clínicas psiquiátricas sob o argumento de que nenhuma pessoa sã tomaria tal atitude, quando não mortos.

Apesar disso, a Missão Portas Abertas afirma que “no porão da embaixada italiana ainda há uma igreja legalmente reconhecida – a única no país – mas que não é publicamente acessível e, portanto, só serve cristãos estrangeiros”.

 

GOVERNO

O Afeganistão é uma jovem república islâmica presidencialista composta por 34 províncias; sua independência foi alcançada no dia 19 de agosto de 1919 e a sua última constituição foi ratificada no dia 26 de janeiro de 2004. Os direitos civis, consuetudinário (ou costumeiro) e islâmico (lei islâmica, ou sharia) compõem o sistema legal afegão.

 

TERRORISMO

Falar sobre a questão terrorista, em se tratando de Afeganistão, requer distinguir dois tipos de grupos, a saber, os que têm atuação doméstica e os que focam as suas atividades no exterior.

De qualquer modo, ao ler sobre os objetivos desses grupos, independente do nível geográfico de atuação, é possível notar que há semelhanças, pontos em comum. Por exemplo: estabelecimento de um Estado Islâmico que varia, obviamente, na extensão e/ou na abrangência do plano; criação de redes de contato terroristas em toda a região, e para além do Afeganistão; eliminação da influência ocidental e, se possível, estadunidense; interpretação radical da sharia; etc.

Entre os grupos que estão lotados no território afegão é possível citar a al-Qa’ida e o ISIS-K, que é um braço regional do ISIS. Em se tratando dos que têm atuação fora do país, menciona-se o AQIS, que é o braço da al-Qa’ida no subcontinente indiano, e que tem um dos principais alvos os interesses dos EUA no Afeganistão; e o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica – Força Qods (IRGC-QF).

 

O TALIBÃ

O Talibã é um grupo fundamentalista islâmico predominantemente pashtun, que foi criado no início dos anos 1990 por mujahidins (palavra árabe que significa “guerrilheiros islâmicos”) afegãos que resistiram à ocupação soviética no Afeganistão (1979-1989). A esses guerrilheiros, que estavam sob a liderança do mulá Mohammed Omar, uniram-se posteriormente jovens tribais pashtun que haviam estudado em seminários e/ou madrassas paquistanesas; daí o nome do grupo, já que taliban significa “estudante, aquele que busca conhecimento” no dialeto pashto.

Quando da formação do Talibã, nos idos de 1990, os mujahidin tiveram o apoio da CIA (serviço de inteligência estadunidense) e do braço dela no Paquistão (ISI). É preciso lembrar que, na ocasião, o mundo estava vivendo os momentos finais da Guerra Fria (1947-1991), conflito que opôs as duas superpotências da época: EUA e União Soviética. É por esse motivo que o Afeganistão estava sofrendo influência direta (principalmente no âmbito bélico) de forças soviéticas e estadunidenses.

A partir de 1992, isto é, quando já havia completado dois anos do fim da ocupação soviética e da consequente vacância de poder, diversos grupos de mujahidin entraram em conflito visando assumir o controle do país. Após quatro anos de caos generalizado e de um cenário anárquico advindo dessa disputa por poder, o Talibã tomou a capital Cabul das mãos de Burhanuddin Rabbani. Já em 1997, o grupo fundamentalista controlava algo em torno de 90% do território afegão.

Voltando ao ano de 1996 e à ascensão do regime talibã ao poder, é preciso mencionar que tal fato se deu por conta de um suporte da população mediante promessas de estabilidade e estado de direito. Para ser mais exato, o grupo prometeu pôr fim à corrupção, restaurar a paz e devolver a segurança nas estradas, o que iria ajudar a desenvolver o comércio.

Contudo, o que se viu foi a imposição da sharia e a consequente proibição de qualquer influência do Ocidente no país, principalmente aquelas propagadas por meio da televisão, do cinema e da música. Além do mais, as meninas com mais de 10 anos de idade foram proibidas de frequentar a escola, os homens foram obrigados a deixar a barba crescer e as mulheres precisaram passar a usar burca (vestimenta que cobre todo o corpo). Ademais, o Talibã instituiu um tribunal a céu aberto para proferir sentenças, execuções, apedrejamentos e execuções contra condenados. Algo como uma espécie de lei do medo.

O regime talibã, que se iniciou no ano de 1996, como dito, permaneceu no poder até 2001, ano em que ocorreram os atentados terroristas às Torres Gêmeas do World Trade Center no dia 11 de setembro. Como resposta, uma coalizão liderada pelos EUA invadiu o país no dia 7 de dezembro sob o argumento de que os afegãos estavam abrigando a organização terrorista e o seu então líder, Osama bin Laden. Ademais, o Talibã se recusou a entregar bin Laden aos estadunidenses. Após a queda do regime talibã, muitos líderes afegãos se refugiaram na cidade de Quetta, que está localizada no vizinho Paquistão, de onde seguiram dando ordens para alguns ataques.

Por fim, no dia 29 de fevereiro de 2020, os EUA e o Talibã assinaram em Doha, no Catar, um acordo de paz que pretende pôr fim a 18 anos de guerra entre as partes que foram representadas por Zalmay Khalilzad, negociador especial dos EUA, e mulá Abdul Ghani Baradar, líder político talibã. O acordo prevê a retirada integral do Afeganistão das tropas estadunidenses e de outros países da OTAN em um prazo de 14 meses. Da outra parte, há pontos a serem cumpridos por parte do Talibã, inclusive, na ocasião da assinatura, Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA, citou a Al-Qaeda e o ISIS como problemas a serem enfrentados no território afegão.

 

BIBLIOGRAFIA

https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/af.html

https://www.portasabertas.org.br/categoria/lista-mundial/afeganistao

https://www.bbc.com/news/world-south-asia-11451718

https://www.dw.com/pt-br/opini%C3%A3o-adeus-%C3%A0-democracia-no-hindu-kush/a-52596278

https://www.dw.com/pt-br/eua-e-talib%C3%A3-assinam-acordo-de-paz-hist%C3%B3rico/a-52588266

http://www.afghan-network.net/Ahmad_Shah/

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